Li poucos livros de contos em minha vida literária e, sinceramente, não sei a razão disso. Um dos poucos contos lidos, mas que me marcou, chama-se ‘A Missa do Galo’ de Machado de Assis, o qual foi originalmente publicado em 1893, que trata de uma narrativa breve com duas personagens relevantes, sendo um dos mais famosos do autor.
Contudo, recentemente, li ‘Veludo Azul’, do escritor paulista Igor Pires de Leon, livro que é o seu último lançamento. O livro de contos possui 17 histórias. De acordo com Marcelo Nunes, prefaciador da obra, “ser um escritor de ficção, em geral, precisa ter a imaginação fértil e grande capacidade de observação do mundo que o cerca, podemos dizer que o contista precisa ter essas qualidades ainda mais desenvolvidas: para um romancista, basta ter uma ideia boa; para o contista, é preciso ter dezenas de ideias boas para que ele consiga formar um livro de contos.”
Na obra em questão, Igor o faz com grande habilidade, desenvolvendo histórias em que “encontramos um desfile de personagens que se veem em situações insólitas, desesperadoras ou tocantes”, como descreve Nunes. Os contos envolvem situações inusitadas como chegar viúva Dona Odete que, um dia descansando em um sofá de sua casa, após ter ficado alguns dias ausente, ouve a porta se abrir e vê um estranho entrando em sua casa, bem-vestido, carregando algumas compras, o qual se espanta ao ver a senhora e lhe diz que não a esperava em casa naquele momento. A partir de então, cenas curiosas se desenrolam e o inusitado acontece.
Logicamente que não irei contar as histórias, pois é óbvio que o interessado em as conhecer deve ler a obra. O meu papel como jornalista e escritor iniciante é instigar os leitores a valorizarem mais a literatura nacional, principalmente dos escritores menos conhecidos, os quais também escrevem histórias tão encantadoras quanto aqueles famosos e aclamados pela grande mídia, os quais já não precisam de mais uma pessoa falando sobre eles. Convido você que está lendo este texto, que busque ler nossos escritores “anônimos”, pois tenho certeza de que se surpreenderá. Hoje, a minha recomendação são os livros de Igor.
Seguindo nosso caminho pelo Veludo Azul, outros contos muito interessantes se desenrolam pelas cidades de Guarulhos e São Paulo, locais que são fontes de tantos escritores e inspiração para tantas histórias intrigantes, como as de Igor. ‘Rubião’ é outro conto singular em que o silêncio é quebrado por falas nervosas, disciplinadas e amargor, em que todos sentiam medo e um estampido leva-o a um destino assustador, diríamos assim. Outro conto triste, porém muito comum na existência humana é o da senhora Glória Solomon que vai parar em uma casa de repouso para idosos e se comunica com seus familiares por meio de cartas. Com o passar do tempo, ela chega a um dos mais degradantes aspectos da vida humana, o abandono de seus familiares. Mas a história não é apenas isso, pois ela nos faz refletir sobre como agimos com as pessoas idosas e muitos esquecendo que um dia chegarão à velhice, se tiverem sorte.
Veludo Azul é outro conto, neste, Ricardo e Sandra se reencontram em um restaurante na Mooca. Entre idas e vindas, durante o jantar, Ricardo pergunta à Sandra: ‘Quanto tempo faz desde a última vez?’, sem uma resposta clara, entre desejos e silêncio, Sandra conta-lhe que já está casada há 32 anos; mas o esperado não acontece. ‘Bodas de Prata’ é outro conto que mostra o quanto a presença de uma pessoa pode desconcertar a vida de alguém, causando as mais profundas feridas psicológicas.
‘Artur e Bernadete’, outra história envolvente que mostra como a idolatria à pessoa amada pode cegar alguém e, ao mesmo tempo, mostra a indiferença que o idolatrado dispende. Traição, tristeza e obsessão movem esta história tão comum entre nós, e tão traumática. O ‘Bar Celeste’ é outra curiosa história em que um assalto frustrado toma um caminho inesperado. Por fim, ‘Zé Valadares’ fecha o ciclo dos meus contos favoritos de Veludo Azul. Nesta história, um silêncio e escuridão banhados em uma solidão de amargar o coração, mostram a personagem imersa em culpa por ter feito algo que todos lhe disseram para não fazer, isso a leva a um dos extremos que o amor pode causar. Ademais, todos os outros contos têm histórias que, de alguma forma ou outra, já fizeram ou fazem parte da vida do leitor.
Igor Pires Leon já lançou várias outras obras de ficção e recentemente concedeu entrevista ao programa Roda de Cuia Entrevista, na TV Roda de Cuia no YouTube. Se você quer conhecer mais sobre esse grande autor, pode assistir à entrevista aqui. Você também pode acompanhar meu Instagram, pois toda semana temos uma nova entrevista literária.