A melancolia sempre me foi uma fiel companheira, porém, durante boa parte da minha existência eu não sabia de tal aspecto, pois faltava-me a consciência de entendê-la, condição sem a qual jamais pude acolhê-la em meu ser. Com o passar dos anos uma busca incessante nascia dentro de mim cumulando em uma necessidade profunda de compreender o que me afetava e as razões pelas quais eu jamais fui uma pessoa de grandes alegrias, largos sorrisos, tampouco grande otimismo.
Anos de confusão mental se delineavam à minha frente à medida em que eu transmutava da superficialidade à profundeza intelectual. Tudo aquilo que me suplantava começava a cair como pinos de boliche quando atingidos pela bola, a qual, com sorte, rapidamente derrubava todos. Em meu caso, os pinos caíam muito lentamente, eis a razão de anos de confusão mental. De uma contida euforia, aos meus trinta anos de idade, um desfiladeiro surgia em meu caminho, não obstante, seguro estava eu de que não haveria desvio e por ele eu deveria cruzar.
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Minha instabilidade mental se agravou, trazendo-me pensamentos suicidas, os quais se tornaram comuns por alguns anos. Felizmente, eu nunca tive coragem de dar fim à minha existência, ou como dizia Emil Cioran, quando o desejo de se matar chega, já é tarde demais. Nesse meio tempo, eu mergulhava minha cabeça nos livros em busca de respostas à minha excentricidade e, pouco a pouco, algumas questões eram-me respondidas, contudo, tantas outras surgiam, fazendo-me nadar em um oceano repleto de tubarões à espera do meu corpo sangrar.
Solitário como sempre, mas agora com plena consciência disso, veio o isolamento social, algo de que eu não poderia fugir, visto que é conditio sine qua non do ser que habita meu corpo. Eis uma manifestação da melancolia, a busca da solidão que, ligada à misantropia, é consubstancial à melancolia. (O Homem de Gênio e a Melancolia – Aristóteles). Gradativamente, o entendimento sobre essa condição se apossava de mim, a solidão se fazia cada vez mais comum, intrinsecamente, a quantidade de pessoas com quem eu me relacionava, decaía rapidamente.
Enquanto tudo isso sucedia, eu descobria amizades milenares, as quais se tornavam a minha companhia ao longo desses anos sombrios. A saber, Schopenhauer foi o primeiro a me ensinar a amar a minha solidão e a abraçá-la, lição valorosa que tem se provado a cada dia e que é um dos meus pilares. Franz Kafka se tornou um terapeuta, posso assim dizer, pois com ele eu entendia que havia mais pessoas no mundo que possuíam o sentimento de não caber aos relacionamentos. Emil Cioran foi quem me ensinou que, como supracitado, quando se sente o desejo de se suicidar, já é tarde demais, não valendo mais a pena. Com ele também aprendi sobre a inconveniência da minha presença na vida das pessoas e o que é a sensação de deter o monopólio da solidão.
Concomitantemente, eu me aprofundava na literatura de ficção e não-ficção. Com ela, também passei a entender certas condições da vida humana que jamais aprenderia não fosse por meio das páginas de um livro, justamente pelo fato de que muitas dessas histórias são reais ou baseadas em fatos, isso significa que, em muitos casos, os personagens vivam situações com as quais eu me identificava, proporcionavam até soluções, fazendo-me refletir sobre a minha condição atual. Os filósofos com os quais dialoguei e os livros com os quais eu me identifiquei pavimentaram o meu caminho do suicídio a uma vida de compreensões a respeito de quem sou e como sobreviver a mim mesmo.
Não posso garantir, de forma nenhuma, que um dia viverei a tão sonhada vida feliz a que todos almejam. No fim das contas, confesso que tal vida não me atrai, pois eu sou a pessoa que não segue a moda, não anda em grupos, não se relaciona com muitos, tampouco faz questão de todo o agito social. À semelhança de Schopenhauer, a minha balança pende para o isolamento, à melancolia e à introspeção. Não existe nada mais confortável a um melancólico que passar seu tempo sozinho, isso não significa nada além de gostar de sua própria companhia, algo que se confunde muito com não gostar de pessoas. Nunca digo que não gosto delas, mas sim que amo ficar só. Como dizem por aí, sou responsável pelo que ‘digo’, não pelo que as pessoas ‘entendem’.
Veja algumas belas citações sobre a Melancolia
“A minha alegria é a melancolia.” – Michelangelo
“A melancolia é a felicidade de se ser triste.” – Victor Hugo
“Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu.” – Lya Luft
“Acostumei-me tanto à melancolia que a cumprimento como uma velha amiga.” – Charles Bukowski
“Confundir melancolia e tristeza com depressão talvez seja o mal do século XXI.” – Leandro Karnal