Quem dera pudesse eu me sentir parte do mundo em que vivo, ter alguma percepção de acolhimento e de sociabilidade, ter a minha intelectualidade absorvida nesta pequena cidade onde vivo, local em que todos os caminhos me levam ao isolamento e à solidão. É uma sociedade que não me impõem desafios estimulantes por ser superficial, mas não posso atribuir-lhe a culpa, visto que devido à frivolidade, julgar-me-iam e esforço algum fariam para um entendimento.
Semelhantemente, os indivíduos que me rodeiam se assustam e são incapazes de compreender a profundidade do meu pensamento e a sensibilidade da minha alma. Disso tudo, resta-me recolher-me à minha insignificância, especialmente no fim de semana, momento em que sou confrontado pelo meu próprio pensamento que, com maestria, perturba-me trazendo as mais variadas inquietações que me crucificam causando-me um desejo de ser como a multidão, mas que, simultaneamente, lembra-me a minha excentricidade, a qual, como um imã não permite que eu saia do meu próprio convívio, um minuto sequer.
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Veja a sinopse:
Na misteriosa cidade de Praga, Ean Blažej, um jornalista solitário e apaixonado por filosofia, dedica grande parte de seu tempo aos livros. Certa noite, tem um pesadelo perturbador. Desde então, anonimamente, passa a receber mensagens e códigos secretos que o confundem, levando-o a diferentes pontos da cidade e a um castelo medieval, conhecido por ser um portal para o inferno. O local esconde uma sociedade secreta. A situação foge do controle quando explosões premeditadas sacodem Praga. Então, Ean se apressa para descobrir o que está além do que os olhos podem ver. Uma aventura detetivesca repleta de ação, mistério, conexões intrigantes e reflexões profundas sobre a solidão na vida moderna.

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Com a abissal predisposição ao isolamento, sinto-me arredio a qualquer convívio social, imerso em um misto de letargia, irritação, inquietação, desestímulo, dúvida e sofrimento. Ainda não consigo entender a razão de eu me sentir tão só, mesmo quando estou rodeado de pessoas, momento em que, com poucas horas de socialização, uma sensação de esvaziamento das minhas energias me obriga ao isolamento, com o qual eu poderia conviver meses. Afirmo que, apesar dos profundos momentos de sofrimento, imensamente mais cruel é buscar no outro algum conforto social. Dos dois sofrimentos, primo pelo solitário.
Sinceramente, não sei se capaz serei de viver a vida toda desta forma ou se antes mesmo, darei um fim a ela. Quando penso nisso, Emil Cioran, filósofo romeno, a quem frequentemente recorro, diz que quando alguém dá fim a sua existência, já o faz tarde demais, no sentido de que já tenha esperado demais para essa decisão, ou seja, já passou da hora. Como já escrevi em outras composições, falta-me arrojo para fazê-lo e, francamente, não me está claro se a falta de coragem em dar fim a minha existência me é vantajoso ou não. Contudo, fielmente acredito que o meu sofrimento só se findaria com a minha morte.
Extirpar a minha consciência é uma impossibilidade, o que me causa certo desespero, pois ser um solitário atormentado pela própria consciência é a mais audaz forma de tortura na qual não há dor física, urros ou sangue, apenas uma perturbação melancólica que pavimenta o caminho à loucura. A minha consciência indomável e insociável, de antemão, já tomou contornos estéticos arrancando-me os raros sorrisos que eu outrora expressava. Da mesma forma, um semblante de tristeza estética se apoderou da minha imagem multiforme, com tons prevalescentes de taciturnidade.
É-me insólito realizar esse discurso silencioso sobre mim mesmo, mas há tempos já me encontro exaurido por trilhar meu caminho silenciosa e atordoadamente nas profundezas da minha incongruência. Como diz Cioran, ‘viver só significa nada mais pedir, nada mais esperar da vida. A morte é a única surpresa da solidão. Os grandes solitários nunca se retiraram para se preparar para vida, mas, ao contrário, para esperar, resignados, o seu desfecho.’ Meu manto de melancolia, pouco a pouco, acumula o peso dos anos tornando a minha existência progressivamente mais fatigante, pesada, atormentadora e desproporcional. Com o passar dos anos, o meu maior desafio tem sido sobreviver a mim mesmo.
Semelhantemente, há tempos deixei de me preocupar em agradar terceiros objetivando me encaixar em suas pretensões, pois tenho algo mais importante e custoso a fazer que é dominar a minha consciência, entender os meus estímulos, estancar os meus sangramentos e evitar o esvaziamento da minha existência. Sinto-me completamente drenado, sugado e desenergizado, mas busco permanecer no meu caminho, por mais tortuoso que seja. Como dizia Charles Bukowski, morrerei incompreendido, mas fiel a mim mesmo*.