Seguindo com sua profunda sensibilidade, Cioran, do mesmo modo que muitos de nós, questiona a razão de se sentir alegre em um mundo com tantas mazelas afirmando que se sente responsável pelas trevas de todos e se considera uma ladrão de luz culpando-se, especificamente, por ‘roubar’ o dia daqueles que não veem e o som daqueles que não escutam, referindo-se aos cegos e surdos, acusando Cristo de ter fingido morrer por nós, pois segundo ele, a verdade é que ele foi colocado à morte. Cioran afirma que a palavra bem, lhe dá vontade de vomitar de tão insossa e inexpressiva.
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Assim como o é verdadeiro para muitos de nós, o filósofo diz estar cada vez mais convencido de que o homem é um animal infeliz e que sua pseudoliberdade o faz sofrer ainda mais do que qualquer outra forma de vida da natureza. Segundo ele, o homem tende, frequentemente, a assumir o monopólio do drama e do sofrimento, ignorando o fato de não ser o único ser neste planeta, acusando-o de recomendar a alegria àqueles que não podem se alegrar. Ainda assim, considera que tudo o que tem de melhor em si, deve-se ao sofrimento, não podendo amá-lo, nem condená-lo, nutrindo um sentimento particular por tal condição.
Cioran enumera razões como o desespero, o infinito e a morte como as mais evidentes para recusar um sentido à vida lamentando que o homem experimente tão pouco a solidão e que ainda acuse de tudo aquilo que tem origem nela como estéril. Para ele, os homens apenas se ligam aos valores sociais iludidos de que colaboram com a sociedade gabando-se e sobrevivendo em cima delas, como se não fossem se transformar me pó.
A euforia dos entusiastas mantém-se no fato de que eles ignoram a tragédia do conhecimento, afirma Emil, aspecto da vida que se confunde com as traves, argumentando que renunciaria, facilmente, a todos os problemas insolúveis em troca de uma doce e inconsciente inocência. Contudo, não recomenda tal renuncia a ninguém, pois são raros aqueles que, quando no deserto, vencem a obsessão do efêmero. Cioran julga-se a contradição absoluta e diz que há mais caos em si do que a alma humana poderia suportar. Para ele, um lamento é de que o diabo o tenha tentado tão pouco, mas, igualmente, Deus não se preocupou particularmente consigo.
Cioran acredita que o trabalho é uma maldição que o homem transformou em volúpia, pois os homens geralmente trabalham demais para que possam permanecer fiéis a si mesmos e são conduzidos a realizações sem valores, tornando-se escravos impotentes da realidade exterior. O homem se perdeu na degradação de sua obrigação laboral acreditando que com isso pode obter o que quer que seja, mas, para Cioran, isso é algo revoltante e incompreensível.
Assim como muitos de nós, Cioran afirma que todos os homens têm o mesmo defeito que é esperar pela vida, ao invés de realmente vivê-la, agindo dessa forma por falta de coragem para viver de verdade. Segundo ele, todos nós aprendemos a viver apenas quando não temos mais nada a esperar, no mais, habitamos um porvir longínquo e insípido. Quantos de nós conhece alguém ou já ouvi história sobre uma pessoa que mudou totalmente após uma situação de quase morte, isso, provavelmente acontece, pois, a pessoa percebe que com a chance de vida que recebe, não pode deixar de viver a vida de forma profunda e verdadeira, sem amarras ou receios.
Ao amor que vem do sofrimento, credita renúncia, tormento e inquietude e nada mais significa que um imenso retiro, pois perdoa tudo, admite tudo e justifica tudo. Aqui, ele se questiona se diante de tudo isso, ainda pode se chamar amor. Semelhantemente, a infelicidade trazida pelo amor ou outra circunstância, deve ser combatida rechazando-se a nós mesmos, pois somos a fonte do mal que está dentro de nós. A felicidade, afirma, pode reservar surpresas muito mais dolorosas que a própria tristeza.
Por fim, o conhecimento em pequenas doses, encanta; em grandes doses, decepciona. Mesmo diante dessa afirmação, Cioran acredita que aquele que não sofreu do conhecimento, não terá conhecido nada. Em seu profundo estado de aparente letargia, afirma estar tão alegre e tão triste que suas lágrimas têm, ao mesmo tempo, os reflexos do céu e do inferno.
Quem foi Emil Cioran? *
Foi um escritor e filósofo radicado na França. Ele nasceu em Rășinari, na Transilvânia, Romênia, em 8 de abril de 1911 e faleceu em Paris, no dia 20 de junho de 1995. Absorveu influências germânicas e seus primeiros estudos centralizaram-se em Immanuel Kant, Arthur Schopenhauer, e principalmente Friedrich Nietzsche. Mais tarde, já na faculdade, Cioran também foi influenciado pelas obras de Georg Simmel, Max Stirner, Ludwig Klages e Martin Heidegger, e pelo filósofo russo Lev Shestov.
Seus principais interesses giravam em torno do antinatalismo, misantropia e suicídio, não possuindo religião. Exaurindo seu interesse pela filosofia conservadora, já na juventude, Cioran criticava o pensamento sistemático e a especulação abstrata, defendendo as reflexões pessoais e o lirismo apaixonado. “Não invento nada; simplesmente, sou o mensageiro das minhas sensações”, afirmaria mais tarde.
Obras principais
Nos Cumes do Desespero
O Livro das Ilusões
Breviário de Decomposição
Silogismos da Amargura
História e Utopia
Exercícios de Admiração
Antologia do Retrato: de Saint Simon a Tocqueville
*Com informações da Wikipedia