Ser quem você realmente é pode ser mais difícil do que usar uma máscara social a vida toda, mesmo que essa máscara seja pesada. A busca pelo autoconhecimento nos remove das amarras da ignorância, mas nos joga em um poço profundo do qual se sai somente com a aceitação das suas limitações humanas, mesmo quando nos achamos capazes de tudo. Abandonar a escuridão da ignorância é muito dolorido.
Ao chegar à luz, descobre-se que há tantos outros demônios contra os quais lutar, ainda mais quando você se encontra no espectro autista. O diagnóstico é uma carta de alforria que nos faz entender que se encerra o momento de lutarmos contra quem realmente somos e chega o momento em que devemos nos abraçar e nos perdoar pela forma como nós mesmos nos maltratamos no passado. Pode ser duro saber que você mesmo foi o seu maior algoz.
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Neste mesmo tempo, um novo momento de lutas se estende à sua frente. Da aceitação interior surge uma nova forma de reprovação social amplificada: pessoas. Elas sempre são o real problema daqueles que nasceram diferentes, pois elas não perdoam aquilo que não se encaixa nos padrões sociais. Elas são cruéis e não fazem questão de esconder. Praticam todos os atos de maltrato que estão ao seu alcance, mas fingem tolerar. Ser você mesmo em uma sociedade inescrupulosa o leva à vida povoada de solidão.
Por isso, é tão importante que você, em primeiro lugar, aceite-se como é, pois raríssimos serão aqueles que o aceitarão. Essa aceitação é conditio sine qua non, ou seja, é condição essencial para a sua existência e/ou subsistência nesta vida. As pessoas, primeiramente, irão desdenhar da sua condição; depois, fingir que aceitam; posteriormente, fazer você duvidar dos próprios sentimentos buscando invalidar a sua questão. Ou seja, não irão aceitá-lo, mas você precisa fazê-lo, caso não, viverá em um estado terminal.
É duro saber que o mundo é pensado e concebido para os normais, e tudo aquilo que foge ao padrão, vive à margem da sociedade. A luta é muito mais dura, visto que o mundo não o aceita como você é. Ele faz questão de deixar você mal consigo mesmo e jamais se preocupa com os seus sonhos. Afinal, todos somos pobres diabos buscando momentos de felicidade aos quais nos agarrarmos para amenizar a dor de sermos quem somos.
É uma lástima que as pessoas desprezem tanto aquilo que é diferente do usual, que não tenham a capacidade de perceber o brilho que o atípico possui. Isso se dá pelo fato de que grande parte das pessoas possuem mente rasa e isso as incapacita de ver a profundidade daqueles que são diferentes. Uma mente rasa jamais aceitará aquilo que está fora do seu limitado campo de conhecimento, portanto, fará o possível para rechaçá-lo, pois o vê como uma ameaça a sua paz e ao seu mundo de faz de conta.
O mais importante nisso tudo é que nós que somos diferentes sigamos fortes e deixemos de lado o desejo de sermos iguais aos outros em um mundo tão repleto de diversidade. Não podemos nos estragarmos tentando sermos da mesma forma que todos são. Se viemos ao mundo em diferente condição é porque temos a missão de mostrarmos que o diferente, no fundo, é aquele que muda o mundo, pois ao analisarmos a história, podemos perceber que uma mente normal jamais fez algo grandioso por este mundo. Tudo aquilo de grande valor para a humanidade e que mudou o mundo para melhor foi criado pelas pessoas diferentes, pelos esquisitos, pelos anormais, pelo atípicos. Não estraguemos tudo querendo ser igual aos outros.
*”O que a manada mais odeia é aquele que pensa diferente; não é tanto a opinião em si, mas a ousadia de querer pensar por si mesmo, algo que eles não sabem fazer.” — Arthur Schopenhauer