Condenadas ao sofrimento constante, as almas densamente profundas experimentam uma angústia que não pode ser descrita com palavras, mas apenas com o silêncio, pois este, ao contrário do que muitos pensam, carrega significados que não existem no mundo físico. Elas são sensíveis a qualquer movimento, perambulam neste mundo perturbadas pelas inconveniências cotidianas a que são involuntariamente submetidas.
Tais almas, extremamente sensíveis ao toque humano, frequentemente são agredidas pelo contato com a insensibilidade que habita a superfície deste plano. Desafortunadamente, condenadas à convivência humana, podem sair feridas da mais simples interação e levam dias para se curar, fechando-se em seu próprio silêncio como um mecanismo de devesa da brutalidade, justamente pelo fato de serem extremamente sensíveis.
Há vezes em que elas nem têm responsabilidade ou algo relacionado, mas o simples fato de estarem presentes no ambiente ou saberem de algum infortúnio, basta para que o sofrimento saia pelos poros exalando um perfume com um aroma de amargura. Assim, com o passar do tempo, aprendem a evitar o contato e buscam viver em reclusão, pois a solidão dói menos que uma palavra, um olhar ou um silêncio com feições de reprovação.
Contudo, as almas altamente sensíveis precisam, de uma forma ou outra, conviver com as almas típicas e esse convívio pode conter dissabores e sofrimentos, muitas vezes, invisíveis aos outros, mas nunca a uma alma profunda. A dor é profundamente maior quando é provocada por alguém que transita nos arredores, mesmo que essa pessoa o tenha feito sem intenção. Contudo, para uma alma altamente sensível, tudo é intencional, por isso, as dores da alma podem ser insuportáveis, desalentadoras e dolorosamente longas.
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Pouco a pouco, a vida vai esmagando as almas altamente sensíveis sem piedade impelindo-as ao exílio entre os seus semelhantes. Elas se fecham para se proteger da insensibilidade do mundo, mas não são compreendidas. São chamadas de arrogantes, egoístas e egocêntricas, mas, na verdade, poucos entendem que elas estão muito distantes desses rótulos e que apenas se isolam por não conseguir tolerar a indiferença e insensibilidade com que são tratadas.
O silêncio, o isolamento e a distância são apenas os medicamentos de que as almas altamente sensíveis necessitam. Afastar-se é um processo de tentativa de autocura, que nem sempre é eficiente, mas é o que mais se aproxima daquilo que pode ser chamado de cura. As almas altamente sensíveis não repelem, não replicam, não gritam, nas provocam reações espalhafatosas; apenas se retiram, silenciosamente.
Basta um olhar, uma palavra ou até mesmo a falta dela para que uma alma altamente sensível sinta uma dor profunda que pode dilacerá-la instantaneamente. Elas sabem o real significado da palavra ‘atitude’ e entendem que ela pode ser desmembrada em uma miríade de significações, desde um acolhimento até um afastamento. Para tudo isso, é preciso somente uma atitude e nem a mais discreta passa despercebida.
Ser altamente sensível em um mundo indiferente é igualmente doloroso. Como já dito, não há palavras que possam descrever a dor que a insensibilidade pode causar e não há sofrimento na alma do qual os altamente sensíveis escapam. Para a nossa segurança, então, vivemos em nosso mundo protegido por uma redoma, pois já passamos por tanto sofrimento que um dos maiores desejos que temos é nos pouparmos do mundo, existindo somente em nós mesmos.