Pode um grande conhecimento trazer alguma alegria?

“Afinal, quanto maior o saber, maior o sofrimento; e quanto maior o entendimento maior o desgosto.” – Eclesiastes 1:18

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Pensar é uma exigência dos tempos modernos em que nos encontramos soterrados de estímulos que surgem das mais variadas formas, principalmente, da internet, avanço tecnológico que nos proporcionou acesso a um mundo de conteúdos com os quais tínhamos contato somente por meio dos livros ou televisão, há duas décadas. Toda essa carga de informações exige que pensemos rapidamente e selecionemos aquelas que nos são importantes.

Contudo, fica difícil saber o quanto realmente pensamos sobre toda a informação que recebemos e se a manejamos de forma adequada ao nosso intelecto. Muitos se sentem ansiosos pela quantidade de estímulos e cobranças atuais, tendo a impressão de que devem gerenciar quaisquer informações com as quais têm contato, entendendo-as e buscando uma forma de usá-las no seu dia a dia. Isso se mostra uma tarefa quase impossível; sádica, de certa forma.

Essa introdução é apenas uma amostra de tudo aquilo que temos disponível, mas tanta informação não significa conhecimento, necessariamente, pois este, é adquirido por meio de um aprofundamento em determinado conteúdo o que, também, dependendo da profundidade em que se mergulha, pode gerar uma inquietação na alma. Como dizem, cuidado com o que você busca, pois pode acabar encontrando, não é mesmo?

O ponto ao qual quero chegar é o quanto todo o conhecimento que angariamos contribui para a nossa sanidade mental e felicidade geral. A questão é muito discutida na filosofia e no campo da psicologia, profissionalmente falando e, vulgarmente falando, em nosso dia a dia, não como peritos no assunto, mas como cidadãos comuns. Muitos afirmam que o conhecimento é essencial para uma vida esclarecida, sem dependências e livre, já outros afirmam que a ignorância é uma bênção.

Os dois casos possuem o bom e o mau lado. Viver o seu dia a dia sem se aprofundar no conhecimento é viver superficialmente e, com frequência, sofrer por problemas mundanos justamente pela falta de conhecimento necessário para lidar com eles. As pessoas que vivem nessa condição, normalmente levam uma vida considerada feliz, pois têm frequente contato social, encontrando satisfação nas conversas sobre o tempo, a vida alheia, o trabalho e as relações amorosas; elas se contentam com aquilo a que assistem na televisão ou com a lorotas que ouvem nas rádios e, principalmente, com a superficialidade das redes sociais. Assim, podemos afirmar que a ignorância é uma bênção, sendo onde reside a maioria das pessoas.

Por outro lado, pessoas que mergulham na complexidade da vida humana buscando desvendar aquilo que está além do que os olhos podem ver são mais raramente encontradas. Essas pessoas buscam fugir da superficialidade para encontrar respostas para questões complexas e profundas que lhes afligem. O que poucos, o quase nenhuma sabe, é que é um caminho sem volta, no qual quanto mais se caminha, mais longe se chega, contudo, perde-se o local por onde se iniciou a trajetória. Isso quer dizer que buscar um conhecimento profundo é um processo que, usualmente, começa-se de forma inocente, mas que, pouco a pouco, transforma a mente em um emaranhado de complexidades que podem levar à dissociação da realidade com a mente.

Agora chegamos aonde eu gostaria… A grande questão desse mergulho no conhecimento é que você passa a perceber as misérias da vida humana de uma forma que não se vê superficialmente. Você descobre que as pessoas são, sem exceção, mal-humoradas, chatas, exigentes, fofoqueiras, mentirosas, malvadas, prejudiciais, invejosas, caluniadoras… obviamente que todos nos encaixamos nos quesitos acima; alguns, levemente; outros, meio-termo; outrem, profundamente. Não objetivo ofender às pessoas, mas todos sabemos que somos assim, o que apenas muda é o grau de intensidade. Aqueles que se aventuram a cavar mais, veem o quanto eles mesmo podem ser miseráveis e é aí onde o conhecimento sobre si e a complexidade humana não tem nada de bênção.

Uma vez estando neste lugar, é como uma palavra dita, a qual não pode ser desdita, ou seja, é um caminho sem volta. Aprofundando-se na questão filosófica, percebemos que somos nada, ou melhor, somos uma agulha no palheiro, uma gota no oceano, uma nuvem no céu, uma folha em uma árvore, ou seja, somos insignificantes e estamos vivos e/ou saudáveis, por sorte, pois para morrer, basta estar vivo. Em meio a essa consciência profunda, somos atingidos por uma melancolia passando a entender antigos questionamentos sobre se o conhecimento pode trazer alguma alegria. As grandes mentes da humanidade afirmam, em sua maioria que não. Schopenhauer, meu filósofo favorito, era grande conhecedor da tristeza advinda do conhecimento, afirmando que quanto mais claro é o conhecimento do homem, quanto mais inteligente ele é, mais sofrimento ele tem; o homem que é dotado de gênio sofre mais do que todos.

Particularmente, eu não acredito que uma pessoa superficial e mediana, quando se fala em inteligência, venha a sofrer por razão de um profundo conhecimento; primeiro porque ela não tem a consciência da sua própria insignificância e ignorância; segundo, porque não tendo tal consciência, ela não sabe ou não deseja se aprofundar. Do contrário, aqueles que são inteligentes e que mergulham nessa questão, acabam, em diferentes graus, arruinando qualquer chance de uma vida feliz.

A questão sobre conhecimento e tristeza já é perseguida há séculos e, conforme muitos estudiosos da área, a ignorância é uma bênção. O sofrimento está tão conectado aos filósofos e às grandes mentes que, ao longo da história, foi quase impossível imaginar algum deles gozando a vida de forma irrefletida. Ainda hoje, eles são vistos dessa forma. Eu, como escritor, possuindo uma personalidade controversa aos padrões aceitáveis como normais, possuo um grau excepcionalmente alto de sensibilidade geral e emoções negativas vendo a vida como melancólica buscando o isolamento devido à altíssima consciência sobre a miséria humana e a minha própria.

Isso é ruim? Sim, creio que, na sua maior parte, é um sentimento ruim com o qual estou aprendendo a lidar, pois essa sensibilidade faz com que as relações humanas sejam altamente desafiadoras para a minha pessoa, razão pela qual, passo a maior parte do meu tempo em solitude.  Mas como já afirmado, é um caminho sem volta. A grande questão, no meu caso, é que a vida me levou por esse caminho, pois eu não fiz esforço algum para trilhá-lo. Com toda a consciência que tenho, sei que é essencial buscar transformar isso a meu favor, mas como?

O lado bom da minha personalidade é que tenho uma abertura excepcionalmente alta pela novidade, ou seja, busco, incessantemente, por mais conhecimento, principalmente na área das artes, como literatura, pensamento abstrato e filosofia por meio de uma avançada sensibilidade às emoções estéticas e à beleza. Isso tudo me concebe um elevado grau de esperteza, criatividade, exploração, inteligência e visão, o que pode ser confirmado pelas profundas análises que faço em meus textos, pela forma que escrevo ou me expresso verbalmente. Em tempo, outro lado ruim de um profundo autoconhecimento é que me questiono constantemente, muitas vezes, minando minhas próprias convicções e crenças.

Por fim, a minha grande necessidade de novidade e curiosidade me levou à profunda e complexa mente que tenho hoje, contudo, trouxe consigo uma grande dose de melancolia, baixa autoestima e questionamentos constantes sobre tudo, gerando inquietação, insatisfação e obsessões. Finalizo afirmando que, se você sente que está no mesmo caminho, vá com cuidado sempre buscando autoconhecimento, pois ele vai te suplantar nessa jornada. Esteja preparado por ser o esquisito, o solitário, o chato e o incompreensível. Contudo, tirando proveito disso, você pode ser uma nova grande mente da humanidade, mas é preciso trabalhar arduamente sob a desconfiança e incompreensão alheia, mas quem disse que você deve se importar com isso?

Se você se identifica com este texto, escreva-me contando um pouco sobre você e como você se vê e lida com tal questão. Obrigado pela sua leitura!

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