Quem é solitário pode ser um monstro ou um deus*

“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” – Clarice Lispector

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Como dizem, dentro de nós, em nosso âmago, somos todos sozinhos, mas logicamente que nem todos assim se sentem, visto que passam grande parte de seu tempo rodeados de semelhantes temendo um momento de solidão, pois não saberão como lidar com ele. Outros têm a plena consciência da profunda solidão pela qual são preenchidos e nela buscam sua força, mesmo que seja cruel. Ainda busco saber se ou um monstro ou um deus. De qualquer modo, isso pouco importa, pois nada mudaria.

São 22:05 do dia 18 de abril de 2025, feriado de Sexta-Feira Santa. Passei o dia só. Li. Escrevi. Assisti a um filme e reiniciei uma séria chamada Terapia. Foi uma sexta de temperatura amena, com tempo escuro por algum momento e chuva. Logo, antes e depois, céu bastante claro. Entre pensamentos, inquietações, solidão e certa desesperança, escrevo, pois essa é a única forma de aliviar a minha angústia. A escrita é minha terapia; as páginas em branco apenas absorvem a minha dor, não me julgam e nem buscam me dar conselhos pretensiosos. A escrita me alivia e tem me protegido de mim mesmo.

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Assim, como o dia de hoje, a maior parte dos dias de feriado ou fim de semana de minha vida foram semelhantes. Ultimamente, tem se tornado a regra. Uma das razões é a intolerância que tenho em relação à miséria intelectual humana. Outra é a incapacidade de as pessoas compreenderem o meu pensamento. A minha profundidade e complexidade espantam e tornam o meu convívio social quase que impossível. Quanto mais eu passei a entender o que acontece dentro de mim, mais me isolei. O autoconhecimento meu levou ao isolamento.

É uma noite muito silenciosa. Amo o silêncio. Detesto toda forma de agitação ruidosa, excesso de estímulos sensoriais e a futilidade humana é o que mais causa repulsa. A essa altura da minha vida, não tenho mais medos ao expressar o que sinto e o que penso, pois os poucos que restavam ao meu redor já se afastaram por suas razões, mas vez por outra, aparecerem para saber se estou vivo, mas não fazem muitas perguntas, pois têm receio das minhas respostas, as quais nunca são simples e alegres. Minhas respostas são sempre mais que sim ou não e isso gera desconforto tanto para mim quanto para o interessado.

O que se pode temer quando se vive sozinho no mundo? Acredito que há poucas situações que possam amedrontar alguém nessa condição. Nem o que dizem sobre você, nem a solidão, nem a exclusão. Até a morte assusta menos. Ela vai, aos poucos deixando de ser o grande temor da vida, pois a quem está sozinho, não resta mais nada a perder, nem a temer. Um solitário vive da forma mais nua e crua possível. Para um sedento por companhia humana, é execrável viver dentro de quatro paredes tendo apenas a si mesmo para nutrir todas as suas necessidades. Ele precisa se socializar, ver pessoas e se camuflar na multidão pois é de onde acredita vir sua força.

Um solitário tem somente a si mesmo. Olha-se no espelho todos os dias, sabe que tudo de si mesmo depende. Não pode dar-se ao luxo de sentir necessidades que não possa suprir, pois teria que buscá-las no mundo exterior e fazê-lo lhe é penoso. Nada fora de si pode lhe suprir o suficiente, pois quase tudo é supérfluo e efêmero e esses são adjetivos não combinam com um solitário profundo. Bem sei, como um misantropo que sou, que me explicar ao mundo já faz parte do meu passado, pois ele é habitado, na sua maioria, por mentes incapazes de entender o que está além da página três, como diz Pondé, em uma de suas falas. Além do mais, por sorte, a esta altura, prescindo de tal necessidade, pois não quero mais viver em um mundo de pessoas que não me entende, não me aceita e não possui sensibilidade alguma para almas profundas.

P.s. Confesso que nesses momentos de solidão aguda, sinto vontade de tirar a minha vida, mas como sou covarde e discípulo de Emil Cioran, não o faço. Cioran dizia que quando sentimos vontade de cometer suicídio, já é tarde demais, pois o objetivo de fazê-lo é evitar o sofrimento, portanto, o suicídio faria sentido antes do sofrimento nascer. Depois que já se está sofrendo e chegando ao cúmulo da dor, não é mais a solução, pois o sofrimento já aconteceu.

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Sinopse
Na misteriosa cidade de Praga, Ean Blažej, um jornalista solitário e apaixonado por filosofia, dedica grande parte de seu tempo aos livros. Certa noite, tem um pesadelo perturbador. Desde então, anonimamente, passa a receber mensagens e códigos secretos que o confundem, levando-o a diferentes pontos da cidade e a um castelo medieval, conhecido por ser um portal para o inferno. O local esconde uma sociedade secreta. A situação foge do controle quando explosões premeditadas sacodem Praga. Então, Ean se apressa para descobrir o que está além do que os olhos podem ver. Uma aventura detetivesca repleta de ação, mistério, conexões intrigantes e reflexões profundas sobre a solidão na vida moderna.

Saiba mais aqui.

* Citação atribuída a Aristóteles

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