Desde pequeno, ele sentia que não cabia nas rodas de conversa em que se fala sobre trivialidades, faz-se intriga e se culpa o outro pelos problemas pessoais. Conforme crescia, mais profundamente sentia que seu mundo seria deserto, inóspito às pessoas. Cada ano que se passava, o círculo de pessoas com quem se relacionava, diminuía. De grupos, passara a trios; de trios, a duplas; de duplas, a si mesmo apenas. Obviamente que as pessoas nunca entenderam o que havia de errado com ele e o acusavam de estranheza, insociabilidade e birra. As novas pessoas que chegavam à sua vida, não tardavam muito a ir embora.
Apesar de todas as dificuldades de se relacionar, ele acreditava que isso seria passageiro e em meio a inquietações, mergulhou a cabeça nos livros buscando formas de atender as expectativas das pessoas sem frustrá-las, pois o fantasma da solidão estava cada vez mais presente. Aos poucos, foi descobrindo um mundo dentro de si e entendendo que o seu caminho seria a incompreensão e por mais que lutasse contra todas essas forças obscuras que habitavam o seu interior, o autoconhecimento que nascia, não era piedoso e nem o poupava de mostrar-lhe quem ele realmente era.
Mistério, suspense, reflexões filosóficas e sociedade secreta
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Gradualmente, a sensação de misantropia se apossava dele e os relacionamentos, fossem quais fossem, cada vez mais raros. Poucos já se aproximavam, assim, ele precisava encontrar formas de preencher o vazio humano provocado ao qual estava destinado. Sentia, cada vez mais, que o contato humano não o nutria e que tinha a estranha habilidade de ficar só por tempo inimaginável aos outros humanos. Facilmente, passava semanas sem conversar com as pessoas; isso não o incomodava, contudo, não era da mesma forma com os outros, os quais se sentiam abandonados e rejeitados. Pouco a pouco, esses últimos exemplares de sua espécie o abandonaram. Não havia palavras para explicar aos outros que sequer saudades ele podia sentir.
No fundo, ele nutria o abandono, mas não sabia explicá-lo. Neste meio tempo, seguia em busca de autoconhecimento, pois necessitava compreender o que se passava. Não era possível que um humano seria, naturalmente, tão afeito ao isolamento. Em meio a um oceano de incompreensão, arduamente buscava descobrir a razão de ser como era e agir como agia, visto que ninguém buscava o mesmo. Da obscuridade, nascia a clareza de tantas incógnitas em sua vida. Percebeu, então, que havia algo em que ele era formidavelmente talentoso: decepcionar os outros não atendendo as expectativas alheias. Mal conseguia dar conta das próprias.
Em uma tarde recente, já ciente de seu diagnóstico de autista, aspecto que o prejudicava absurdamente nas relações sociais, foi procurado por uma mãe que soubera que seu filho de cinco anos tinha a mesma condição. Ela havia chorado muito por medo de que seu filho sofra neste mundo cruel. Conversamos por uma hora e meia sobre as estranhezas de ser neurodivergente. Ao nos despedirmos, eu olhei para ela e lhe disse que o meu conselho mais sincero e real seria dispender compreensão ao filho dela, fazendo-o se sentir amado e respeitado. Ainda olhando nos olhos dela, eu reiterei a importância da compreensão a um autista. Essa era a maior prova de amor. Prova que somente uma mãe pode dar, pois ele, duramente ao longo da sua vida, teve várias provas de que nem aqueles que se dizem seus verdadeiros amigos irão te suportar. Mas como dizem por aí, está tudo bem, pois ninguém tem a obrigação de aturar as suas estranhezas, nem a sua própria mãe, mas ela tem amor de mãe e fará isso por você, ou se espera que faça.
Apesar de seu sofrimento neste mundo, segue, mesmo que sozinho, pois ainda existe algo que o prende aqui. Durante toda a sua vida, tem lutado uma batalha insana em busca de uma vida “normal” e, duramente, aprendeu que é uma jornada muito solitária. Mesmo sendo tão difícil ser quem ele é, ainda não desistiu de si mesmo. Até quando se suportará, não sabe, mas nunca quis magoar as pessoas por ser da forma que é. Ele só gostaria de um pouquinho de compreensão, de um olhar de afeto e de acolhimento, afinal não pediu para vir ao mundo, muito menos ser autista.
Sinopse de V.I.X.I. CÓDIGOS DE PRAGA
“Na misteriosa cidade de Praga, Ean Blažej, um jornalista solitário e apaixonado por filosofia, dedica grande parte de seu tempo aos livros. Certa noite, tem um pesadelo perturbador. Desde então, anonimamente, passa a receber mensagens e códigos secretos que o confundem, levando-o a diferentes pontos da cidade e a um castelo medieval, conhecido por ser um portal para o inferno. O local esconde uma sociedade secreta. A situação foge do controle quando explosões premeditadas sacodem Praga. Então, Ean se apressa para descobrir o que está além do que os olhos podem ver. Uma aventura detetivesca repleta de ação, mistério, conexões intrigantes e reflexões profundas sobre a solidão na vida moderna.”
V.I.X.I. Códigos de Praga também é um livro com profundas reflexões sobre o comportamento humano, especialmente com a questão do isolamento e solidão do protagonista, Ean, que busca ficar sempre sozinho devido à alta sensibilidade ao convívio social, dificuldade em se relacionar e ansiedade devido à condição do autismo!
