As certezas da minha vida ao completar 35 anos de idade

“Eu sou um poço de incertezas, dubiedades, ambiguidades e hesitações que transbordam confundindo a mim e àqueles que se banham em minhas águas. É raro permanecer ileso a mim” – Cássio Felipe

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Varsóvia, Polônia

Como muitos dizem por aí e disso também estou seguro é de que a única certeza é a morte. Deveras tal desfecho trágico nos aguarda e o pior é que não sabemos quando será, tampouco como será. Essa incerteza baseada em uma certeza, atormenta o ser humano ao longo de sua vida. Raros são aqueles que enfrentam esse momento com resiliência.

Contudo, hoje venho lhes escrever sobre as outras certezas que eu colecionei ao longo da minha vida que, de certa forma, ainda é curta, principalmente quando se fala em termos filosóficos e empíricos. Mesmo assim, acredito que, com a mente demasiadamente profunda com que fui agraciado, permito-me ter uma visão da vida que grande parte das pessoas, à minha baixa idade, não possuem, pois acreditam no amor eterno, nos filmes e novelas a que assistem, no que os outros lhes dizem e em uma lista milenar de tópicos.

A primeira grande certeza que adquiri é que quanto mais aprendo, mais profunda é a sensação de saber nada. Isso é altamente paradoxal, porém intensamente verdadeiro. Desde o dia em que eu entendi que a minha vida se daria no meio dos livros, consideravelmente distante do mundo real, passei a ser atormentado pela incredulidade do Sei que nada sei, de Sócrates. É consideravelmente perturbador chegar à conclusão de que quanto mais se aprende, menos se sabe.

A segunda grande certeza é de que a vida é repleta de incertezas em todas as suas nuances e de que, raramente, aquilo que planejamos vai acontecer da forma como desejamos. Eu cheguei aonde cheguei porque tudo que planejei deu errado, de Rubem Alves, é o aforismo perfeito para os planos que temos. Como dizem, a vida não está nem aí para os seus planos. Você somente tem sob controle o ponto de partida, pois o de chegada ao universo pertence.

A terceira grande certeza é de que, no fundo, ninguém se importa com você e, muitos daqueles que dizem que te estimam, fazem-no se você vive longe, não realmente te querendo por perto. Como diz Pondé, é fácil amar o outro quando é uma criança africana passando fome, pois está longe. Será que você realmente se importaria com ela se fosse trazida para o seu convívio? Provavelmente a rechaçaria. Assim todos somos, em diferentes graus: eu te estimo, porém você lá e eu aqui, não se aproxime.

A quarta grande verdade é que, ao menos que você faça uma grande contribuição à humanidade, num piscar de olhos você será esquecido quando deixar de existir neste plano. É uma verdade cruel, mas quanto mais cedo se aprende a lidar com ela, tão mais fácil se torna o desapego à vida eterna de carne e osso. Como dizem: depois, você será um retrato na estante de alguém, logo mais, nem isso.

A quinta grande verdade é que a felicidade não existe, somos nós que temos a obrigação de criá-la em nossos momentos mais simples extraindo-a de dentro de nossa própria mente com participação de pessoas especiais. A verdadeira realidade é que a vida é feita de momentos de tristeza e tédio esmagadoramente mais abundantes que os de gozo, mas as pessoas têm medo de perceber esse fato ficando atadas ao mito da felicidade onipresente. Como diz Arthur Schopenhauer, a vida se materializa em um pêndulo, em que de um lado possuímos o sofrimento e do outro o tédio; sofrimento por querer ter algo que não possuímos e tédio por finalmente conseguir aquilo que queremos e então nos sentirmos vazios.

Eu poderia, facilmente, escrever sobre outras certezas da vida, mesmo que menos grandiosas. Contudo, sinto-me idiossincrático e altamente paradoxal relatar certezas, quando a única real é a da finitude da existência e quando sou um poço de incertezas sendo consumido por elas à medida que envelheço. Neste momento, sinto uma estranha contradição em mim por querer expressar um rio de dúvidas que desagua em um mar de dubiedades.

Cabe a você escolher as certezas com as quais pretende viver e ter a capacidade de suportar-las, mas não se atenha demasiadamente a elas, pois é muito fácil nos tornarmos ansiosos e inquietos por meio das exigências escravagistas do mundo líquido em que vivemos, para citar Bauman. Com sorte, você viverá sem grandes perturbações e terá uma vida consideravelmente equilibrada, o que é um luxo. Desejo-lhe boa sorte!

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