Nascido em La Haye (Haia, Holanda), em 31 de março de 1596, René Descartes, foi um jovem de espírito inquieto e acreditava que a escola não ensinava propriamente e verdade das coisas, mas se contentava com a repetição dos ensinamentos dos antigos. Assim, desenvolveu uma carreira à margem da universidade. Quando jovem, decidiu viajar pelo mundo para lê-lo como se fosse um livro, tornando-o assim, o seu objeto de leitura. O impulso para a viagem nasceu de uma profunda inquietação com o tipo de ensinamento, com as formas de filosofia e de ciência reinantes naquela época.
Seu propósito central consistia em nada reconhecer como verdadeiro sem que, antes, tivesse passado previamente pela sua razão, pelo crivo de um procedimento metódico, baseado na dúvida e na hiperbolização dessa. Nenhuma ideia merece o qualificativo de verdadeira, se não for objeto de um questionamento radical que permita chegar a princípios, proposições primeiras, que sejam, de fato, indubitáveis. Descartes recolheu-se à solidão de seu quarto, preferindo manter-se fora das algazarras mundanas. Longe da multidão, podia dedicar-se à reflexão e aos seus pensamentos.
Ao mudar-se a Paris, uma cidade muito agitada, seu espírito não vivia em paz. O excesso de burburinho lhe tirava a calma que estimava necessária ao seu trabalho. A tranquilidade e o anonimato eram a sua preocupação central. Em seu livro, Discurso do Método, sua preocupação essencial residia no como conhecemos e no como podemos ter acesso a novas ideias que fossem imunes ao erro, quando perseguidas segundo um procedimento metódico, sistemático. Ele se voltava contra todo o pré-conhecimento, pré-conceito, pois a maneira mediante a qual pensamos, induz-nos, frequentemente, ao erro, à falsidade, à mera aceitação do senso-comum, daquelas ideias que foram sedimentadas no nosso habitual modo de pensar.
O bom-senso ou a razão
Descartes considerava o bom-senso ou a razão a coisa do mundo mais bem compartilhada, de tal maneira que a capacidade de discriminar o verdadeiro do falso, torna todos os homens, independente do sexo, cor ou religião, iguais. A razão iguala os homens, as opiniões os diferenciam.
Regras do Método
Descartes propõe quatro regras do método. A primeira estipula não aceitar nada como verdadeiro sem antes ter passado pelo crivo da razão, ou seja, ao pensar, deve-se deixar de lado as paixões e as emoções. A segunda propõe que tudo o que aparece como complexo, deve ser dividido em tantas partes simples quanto possíveis, pois a razão, ao focar um problema perfeitamente delimitado, tem mais condições de resolvê-lo, do que se encarar algo composto de várias formas. A terceira diz que uma vez realizado o processo de simplificação, ele deve seguir um ordenamento, de modo que a remontagem para o composto possa ser feita sem desvios, ou seja, estabelecer uma ordem lógica entre esses elementos simples, e não uma mera sucessão temporal. A quarta regra diz que como esse procedimento pode ser remontado e repetido, ele deve dar lugar a tantas revisões quanto necessárias, de modo que todas as contribuições possam ser levadas em consideração.
Penso, logo existo
A metafisica do século 17 colocava como seu domínio de estudo Deus e a imortalidade da alma. Mas, para que a filosofia pudesse alçar-se com certeza ao conhecimento desses objetos, era necessário que ela estivesse em possessão de princípios de validade universal. Era necessário que ele efetuasse um novo começo, onde tudo passasse pelo exame da razão, por uma avaliação metódica, livre de entraves dogmáticos, tendo a si mesma como único ponto de referência. Assim, penso, logo existo é o resultado de todo um trabalho de questionamento radical das coisas passíveis de serem conhecidas. Mais simplesmente posto, ao questionar a sua existência, chegou à conclusão de que, se é um ser pensante, então existe, porque ao pensar tem consciência de si próprio, ou seja, penso, logo existo.
Em suma…
Nesta obra, descartes postulava a ideia de que a razão deveria permear todos os domínios da vida humana e que a apreciação racional era o parâmetro para todas as coisas, numa atividade libertadora, voltada contra qualquer dogmatismo. Discurso do Método mostra que Descartes – para quem ‘mente’, ‘espírito’, ‘alma’ e ‘razão’ significavam a mesma coisa – marcou indelevelmente a história do pensamento.