Ser solitário é um ato de coragem

“O que torna as pessoas sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nela, a si mesmas.” – Arthur Schopenhauer

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Imagem: Pixabay

Viver solitariamente é um ato de coragem que demanda uma força estratosférica. É passar as vinte e quatro horas do seu dia na sua própria companhia sem ninguém para culpar pelos seus problemas, conversar desinteressadamente, ajudar-lhe com as suas fraquezas ou, simplesmente, passar um tempo com você. É saber que tudo aquilo de que você precisa, deve ser provido por você mesmo, sem dependências, sem ombro no qual se apoiar. Para levar uma vida dessa forma, é preciso ser uma besta, ou seja, inferior a um ser humano; ou um deus, superior ao ser humano, como dizia Aristóteles.

Acostumar-se à solidão, foi-me um trabalho árduo e ainda o é, de certa forma, pois o ser humano é um ser social. Contudo, eu tive que entender, desde criança, que a minha condição era bastante diferente do que aquela que se espera de uma vida ou pessoa normal. A solidão sempre me acompanhou, não importa onde eu estivesse. Fisicamente, não tanto, pois eu cresci rodeado pela família e alguns amigos. Porém, dentro da minha mente, ela sempre foi constante, desde que me lembro da minha existência.

Ao crescer, da mente, a solidão passara ao plano físico. Os amigos eram cada vez mais raros e, as pessoas da família também. Neste caso, pelo fato de eu haver assumido a minha vida adulta e me mudado da casa dos meus pais. Quanto mais envelheço, mais inclinado à solidão me sinto. O interessante disso tudo é que é uma imposição muito mais forte do que eu, é natural. É algo contra o qual eu não tenho armas suficientes para lutar.

Desde pequeno, fui aprendendo a fazer tudo por conta e isso significava ir crescendo solitariamente. Pois, a mim, a minha condição sempre foi de inclinação ao individual, não importando o que eu fizesse ou o quanto eu lutasse contra isso. Acredito que nunca me foi uma escolha, pois ser solitário é uma tarefa bem difícil. Demanda muita força física e mental, mescladas ao medo, descrença, impaciência, dor, abandono, tristeza, inquietação e melancolia. É uma receita com os ingredientes mais amargos que o ser humano pode experimentar. O resultado não poderia ser diferente daquele que hoje sou.

Tudo é muito difícil ao se viver nessa condição de solidão. Estar triste e não ter com quem desabafar; estar feliz e não ter com quem extravasar. Passei a viver em mundo paralelo onde minha mente funciona em uma dimensão muito diferente, de forma intensa, sem me dar um verdadeiro descanso. Sinto que a minha paz mental somente viria com a morte, porém ainda não me sinto preparado para ela e, sinceramente, espero que demore, pois acredito que, apesar do peso da minha existência, tenho muito a viver ainda. Com o passar dos anos, tenho aprendido a aceitar quem deveras sou. Isso alivia o fardo sobre os meus ombros.

Se você me perguntar se eu acredito que algum dia terei a capacidade de seguir a vida padrão que todos esperam de um ser humano dito normal, respondo-lhe que essa condição me foi indeferida no dia em que eu cheguei a este mundo. Por mais que eu tentei me inclinar ao convívio social, a balança sempre pendeu à solidão. Cada dia, ela pesa mais, causando um grande desequilíbrio na minha vida. Tenho medo disso?  Sim e não. Sim, pois viver sozinho é melancólico e não, pois vejo que as relações humanas são baseadas em interesses, traições, enganos e amores rasos. Na minha solidão, estou longe e protegido disso tudo.

Não é alto demais o preço a se pagar por uma vida assim? Talvez sim, mas reafirmo aqui que não esperar nada de ninguém, não depender de opinião alheia, de fontes frágeis de felicidade ou de encontros sociais fraudulentos compensa a liberdade que a solidão me proporciona. Muitos podem pensar que é doentio viver da forma que eu vivo, porém penso que é mais doentio viver dependendo dos outros para ser feliz, sentir-se amado e realizado. Considero que nada é mais frágil que a expectativa que o outro lhe impõe. Eu, como solitário, não espero nada de ninguém, portanto as frustrações são atenuadas. Logicamente que eu mesmo posso me frustrar e isso acontece com frequência, nesse caso é tão difícil suportar ou mais, pois eu não tenho a quem culpar pelos meus fracassos além de mim mesmo. Assumo o que sou e disso não tenho medo, pois sou real em um mundo repleto de irreais.

No fim das contas, prefiro a absoluta solidão que atuar em um mundo onde as pessoas usam máscara de acordo com a ocasião. Muitas vezes, não o fazem por serem falsas, mas sim pela necessidade de se ajustar à sociedade doente em que vivem, pois não têm coragem ou estrutura emocional para viver de acordo com a sua essência. Autenticidade implica um alto grau de solidão. E por qual razão tão poucos são autênticos? Pelo medo do julgamento, opinião alheia e de não ter ninguém com quem contar ou culpar além de si mesmo.

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